Delicados fios dourados, tão finos quanto um cabelo, são habilmente entrelaçados pelas mãos de quem domina esta arte como ninguém. Dificilmente se adivinharia que a origem desse fio dourado remonta a barras de ouro maciço. Isto só poderia ser obra de verdadeiros mestres.
Portugal tem uma longa tradição na arte da ourivesaria. Em tempos, o Norte de Portugal era pródigo em ouro e talento hábil para trabalhá-lo. Foi nas serras de Pias e de Banja que o povo romano descobriu as minas de ouro e assim, graças às rotas comerciais, a filigrana começou a causar sensação. Não se conhece ao certo a origem exata desta técnica, mas o que se sabe é que diversos exemplares foram encontrados por todo o mundo. Em Portugal, a história também desvendou peças que remontam tempos antigos, entre 2500 a 2000 a.C.
Nas oficinas resistentes, onde ainda se entrelaça a filigrana portuguesa, existe um orgulho, ou como os minhotos dizem, uma “Chieira” de fazer tudo à mão e com muita paciência. As máquinas bem tentam rivalizar na produção da filigrana, mas esta arte mantém um laço forte com a manual.
Os 25 passos necessários para criar um Coração de Viana revelam-se morosos e meticulosos, resultando apenas na produção de um exemplar por dia. Fios entrelaçados com orgulho, que à primeira vista se confundem com cabelos dourados, são habilmente entrelaçados para dar forma ao símbolo da cidade de Viana do Castelo. Foi a rainha D. Maria I quem ordenou a execução do primeiro, no final do século XVIII, quando o seu primogénito varão nasceu. Este símbolo carrega uma profunda conotação religiosa, representando o Sagrado Coração de Jesus, onde podemos vislumbrar, na parte superior, as chamas ardentes da terra e o calor do amor.
A tradição de ostentar este símbolo ao peito teve o seu início em Viana do Castelo. Contudo, a filigrana, é meticulosamente moldada em terras vizinhas, nomeadamente na Póvoa do Lanhoso e Gondomar.
É na romaria D’Agonia que as mordomas e as Noivas de Viana do Castelo desfilam as suas peças de filigrana dourada, numa tentativa de atrair a atenção dos rapazes. Pendentes imponentes em forma de coração de Viana, ou pequenos com o formato de relicário, brincos à rainha, ou os tradicionais brincos de fuso, colares compridos de contas e outros mais curtos — vale tudo para exibir a riqueza da filigrana portuguesa!
Hoje, esta arte, assume diversas formas, desde peças delicadas, decoradas com motivos religiosos, até criações com um design polido e contemporâneo. A filigrana, ao longo do tempo, transcende as suas origens festivas, tornando-se numa expressão artística que combina tradição e modernidade
Algumas marcas, reconheceram o potencial desta tradição portuguesa e têm contribuído para dar a conhecer este recanto da Europa a outros países. Assim, a filigrana, outrora ligada a significados religiosos, floresce agora como expressão artística moderna, mostrando ao mundo a beleza e a habilidade dos mestres portugueses. A história da filigrana continua a desdobrar-se, entre tradição e inovação, como uma narrativa que transcende fronteiras e encanta admiradores por todo o mundo.